Tecnologia, Turismo e Transportes – nosso admirável mundo novo

Por Fábio Pozati

Diversos estudos sobre tendências de mercado, baseados, por sua vez, em observações sobre comportamento de consumo, hábitos e valores de vida das novas gerações, tipo, modos de trabalho e desafios ambientais, têm apontado que a economia global será, em breve, dominada por três atividades econômicas conhecidas como 3 Ts: tecnologia, transporte e turismo, as quais, não por acaso, estão intimamente relacionadas ente si e por isso devem sempre serem observadas de forma integrada, tal qual será feito no breve ensaio aqui proposto.

Dentro desse contexto, é importante destacarmos o fato de que quando falamos em tecnologia não estamos nos referindo necessariamente à componentes eletrônicos ou modernos sistemas que possam eventualmente ser adotados pelas empresas de transporte rodoviário daqui para frente. Na verdade, o foco da tecnologia adotado aqui está mais relacionado a adoção dos recursos tecnológicos em um modelo de gestão mais dinâmico, horizontalizado, participativo, polivalente, inclusivo e humano, permitindo assim obter o máximo de produtividade dentre seus colaboradores, que possuem um estilo de vida e valores pessoais diferente do que encontrávamos há 20 anos, a começar pela familiaridade na utilização de recursos tecnológicos e na necessidade, quase que existencial, de estar conectado às pessoas e ao mundo por meio de algum equipamento eletrônico, seja para a execução de seu trabalho, estudos ou práticas de entretenimento e lazer.

Esse comportamento obriga as empresas de transporte rodoviário a buscar por soluções tecnológicas que permitam um melhor desempenho das funções profissionais de seus colaborares ou ainda, na utilização de outros tantos recursos tecnológicos que ofereçam maior conveniência de consumo de seus clientes, como a boa qualidade na conexão Wi-fi existente (não adianta oferecer se a conexão não funcionar adequadamente) nos equipamentos de transporte rodoviário, comunicação adequada e atraente via redes sociais com seus clientes reais e potenciais ou ainda, na oferta de atendimento rápido e eficiente por meio de aplicativos e/ou site que ofereçam navegação intuitiva e sem perda de tempo para se ter a informação ou  serviço desejado, o que é muito diferente do modelo adotado por muitas empresas, que ainda se utilizam do atendimento eletrônico apenas para reduzir seus custos operacionais, sem se preocupar o quanto a utilização mal planejada e sem critério desse recurso pode comprometer a qualidade de seu atendimento, imagem e relação frente aos seus clientes.
 
No caso específico das empresas de transporte rodoviário, além dos novos recursos tecnológicos oferecidos a cada lançamento de equipamento de transporte, a fim de proporcionar um deslocamento mais confortável, seguro, conveniente, econômico e menos impactante ao meio ambiente, é imprescindível que os gestores dessas empresas estejam atentos aos novos recursos tecnológicos relacionados às próprias vias utilizadas por seus equipamentos, tais como: câmeras de observação de
alta precisão; sistema de inteligência artificial; conexão (via 5G) entre sistema das estadas e veículos; placas de carregamento de energia ao longo das estradas, modernização no sistema de cobrança de pedágio, por meio de sistema free flow, sem necessidade de redução de velocidade para cobrança e ainda a proposta de estrada sustentáveis, com placas solares existentes no decorrer das vias, reduzindo assim a necessidade de se desmatar áreas para sua instalação e oferta.

Mas diante de todas essas ideias, recursos e novidades tecnológicas que podem ser aproveitadas pelas empresas de transporte rodoviário apresentadas até agora nesse artigo, nosso leitor deve estar se perguntando: Afinal, onde o Turismo entra nessa história? A resposta para essa questão é, de certa forma, rápida e fácil, pois a própria evolução tecnológica de equipamentos e estradas rodoviárias influem diretamente no aumento do fluxo turístico, já que as condições de acesso favoráveis estimulam a prática do turismo a um determinado destino, pois os turistas se sentem mais seguros e confiantes em viajar quando sabem que o caminho é rápido, moderno e estruturado. Por outro lado, de nada adiantará a um destino ter os melhores atrativos, gastronomia e povo hospitaleiro se seu acesso não for qualificado ou pior, ser visto pelos potenciais turistas com um local de difícil acesso, mesmo que isso não represente a realidade de fato. 

Além disso, precisamos considerar que o maior acesso às redes sociais, facilitado pela melhoria da velocidade e barateamento da conexão a Internet, permitiu a popularização de sites e páginas encontradas no Instagram e TikTok, por exemplo, de imagens apaixonantes em altíssima definição, obtidas por novos ângulos a partir da disseminação do uso de drones. Essas imagens nos seduzem e nos motivam cada vez mais a viajar para esses destinos, os quais podem contar ainda com a indicação de algum influenciador digital cuja narrativa é capaz de encantar até o consumidor que mal se comunica, mas que utiliza com frequência algum equipamento eletrônico para obter informações ou interagir com seus pares.

Dentre as diversas possibilidade e oportunidades que a tecnologia nos proporciona, é interessante destacar o crescimento de um tipo de turista que procura esse tipo de serviço não apenas pelo preço, mas pela possibilidade de se deslocar de forma segura e conveniente e que lhe permita, dentre outras vantagens, continuar a acessar suas redes sociais ou ainda, se comunicar via WhatsApp ou Instagram com seus amigos e parentes (para contar de sua nova viagem por exemplo) no decorrer o deslocamento, sem interrupções ou preocupação em se acidentar ou ser multado, caso tivesse que dirigir um veículo próprio para chegar até o destino desejado.

Deve-se, portanto, investir na oferta de equipamentos de tamanho, estrutura e layout mais diversificados, com ampla oferta de recursos tecnológicos, capazes de promover experiências diferenciadas, como uma degustação por meio de óculos de realidade virtual dos locais que serão visitados. Além disso, deve-se pensar na disponibilidade de equipamentos capazes de levar seus turistas a lugares pouco conhecidos, acessados por vias não apenas pavimentadas, ou ainda, oferecer uma solução em mobilidade para um novo perfil de viajante que não quer mais contratar o mesmo serviço para levá-lo necessariamente até todos os atrativos do destino, pois esse mesmo turista poderá, ao seu critério, alugar serviços de transporte locais alternativos, como veículos 4×4, quadriciclos, bicicletas (convencionais ou montain bike), motocicletas, dentre outros, motivado sempre pelo busca de experiências únicas.

Pensando em todas essas possibilidades e oportunidades, a FRESP (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo) está promovendo um importante trabalho de reposicionamento do Turismo Rodoviário, que visa oferecer no mercado uma nova imagem sobre esse segmento, por meio de proposta exitosas e inovadoras capazes de sensibilizar empresários da área de transporte rodoviário, agentes de viagens, operadores, guias de turismo, hotéis e gestores de destinos turísticos a entender e acreditar que o turismo rodoviário é um mercado que evoluiu, se diversificou e se sofisticou a partir desse admirável mundo novo proporcionado pelas inovações tecnológicas, o que gerará, sem dúvidas, diversas propostas que permitirão aos empresários adequar sua oferta a esse novo mercado instigante, desafiador e, ao mesmo tempo, repleto de oportunidades àqueles que buscam soluções criativas e inovadoras.

*Fábio Pozati, Consultor da FRESP (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo), Fábio Pozati é doutor em Geografia pela UNICAMP, mestre em Ciências da Comunicação pela USP e Turismólogo pela USP.